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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Jornalismo

25/07/2011 | N° 2879

OPINIÃO DA RBS

O limite da notícia


A ética do jornalista, ensinou o respeitado Cláudio Abramo, é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista. Se tivessem seguido esse princípio elementar de uma atividade que mexe com a vida das pessoas, os profissionais do tabloide inglês News of the World certamente teriam evitado o escândalo que está abalando o império de mídia do australiano Rupert Murdoch, com reflexos em todo o mundo. Mas a responsabilidade não é só dos jornalistas. É, também e prioritariamente, da empresa de comunicação que explorava e estimulava a conduta antiética, caracterizada pela espionagem telefônica e pelo desrespeito à privacidade das pessoas.

Cabe, porém, separar o joio do trigo ? e não para publicar o joio, como prega uma anedota jornalística. Foi a imprensa sadia que denunciou os abusos praticados pelo tabloide britânico. Até mesmo outros jornais pertencentes a News Corp., o grupo proprietário da publicação delinquente, estão dando uma cobertura responsável do episódio. Não cabe, portanto, um repúdio generalizado à imprensa por conta da deformação de um jornal. Mas é pertinente o questionamento sobre alguns veículos da mídia sensacionalista, que alcançam altos índices de audiência mesmo com suas práticas inescrupulosas.O risco, para a democracia e para os cidadãos, é que o episódio seja utilizado como pretexto para o cerceamento da liberdade de expressão. Quando um veículo de informação ultrapassa os limites da ética, logo surgem vozes oportunistas defendendo o controle dos meios de comunicação. Invariavelmente, utilizam-se de um eufemismo chamado controle social da mídia. Ora, os cidadãos livres já controlam a mídia pelo exercício do direito de escolha. Não podem aceitar que governantes ou qualquer outra autoridade assumam a condição de tutores e tentem exercer esse controle em nome da sociedade. Isso equivale a conceder um salvo-conduto para o autoritarismo, pois quem impedirá que o poder de censurar seja utilizado para proteger amigos ou apadrinhados políticos de notícias incômodas?
Inquestionável é, porém, a necessidade de limites nas informações e nas opiniões. A internet está aí para provar que permissividade absoluta gera deformações, absurdos, calúnias e maledicências de toda a ordem. Como, então, estabelecer regras sem conceder ao Estado este poder? A resposta está na autorregulamentação, na existência de códigos de ética que sejam do conhecimento da sociedade, para que os cidadãos possam cobrar sua observância dos veículos e dos profissionais de comunicação. Mais do que isso: os limites éticos devem ser impostos também pelo público, que tem o direito de selecionar aquilo que deseja ver e ouvir, assim como exigir dos veículos de comunicação um comportamento ético, responsável e construtivo.

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