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sábado, 23 de outubro de 2010

Deputado de Santiago e Região I.



23/10/2010 | N° 2641 | Fonte: Jornal Diário de Santa Maria do Grup RBS.

ESPECIAL

É O CHICÃO!

A história do jogador de futebol que virou prefeito de Santiago duas vezes

e agora será deputado.

Conheça José Francisco Gorski, o ex-Zé que virou Chicão, do PP

A guriazinha está concentrada na tarefa de rapar o prato de comida. Quando leva o garfo à boca, olha para frente, engole seco e grita:

– É o Chicãããooo!

As educadoras desistem de tentar manter a criançada comportada no almoço. Em segundos, cerca de 200 crianças estarão gritando o nome do ex-prefeito no ginásio municipal de Santiago. O local hospeda o Criança Feliz, projeto que atende 489 crianças pobres no horário oposto ao da escola. É uma das iniciativas na área social que José Francisco Gorski, o Chicão (PP), 53 anos, implantou quando prefeito, cargo que ocupou por duas vezes entre 2000 e 2008. Antes, havia sido vice-prefeito. Agora, é um futuro deputado estadual da região que ocupará a Assembleia Legislativa, a partir de 1º de janeiro, em Porto Alegre.

Chicão fez 43.012 votos no Estado. Só em Santiago, foram 20.801 – o segundo colocado na cidade fez 592. Em 2004, Chicão se reelegeu prefeito com 66,22% de aprovação. Em 2008, ajudou a eleger seu então vice, Júlio Ruivo (PP).

Os acenos e cumprimentos nas ruas da Cidade dos Poetas demonstram como o povo conhece Chicão. Mas são adultos, habituados às regras e aos códigos de comportamento que a vida atual em comunidade exige. Perceber esse nível de popularidade de forma mais convincente talvez seja possível diante da inocência de duas centenas de crianças que gritam “Chicão!”.

– Ainda não consigo entender. Talvez tenha sido a campanha, que tinha música... Parece que a criançada me vê como um personagem – diz Chicão.

Em parte, é verdade, a julgar pela menininha que perguntou se aquele homem que entrava no ginásio era mesmo o Chicão. Em parte, é modéstia, já que aquela criançada toda deve relacionar Chicão ao ônibus que as leva para a escola, às atividades que eles têm em horário fora de aula e à comida que é servida.

Chicão caminha pelo ginásio e logo é acompanhado por uma roda de baixinhos agitados e a todo volume. Os mais ousados tentam abraçar, pegar na mão e até beijar. Ao meio-dia, é a hora do pico no ginásio. Enquanto as crianças atendidas pela manhã terminam a refeição para serem levadas à escola, outra turma vem da aula e forma fila para almoçar e ali ficar durante a tarde para atividades e oficinas.

– O Chicão é bom. Dá as coisas para a gente – diz um menino.

Como prefeito, ele fez outros projetos que seguem sendo realizados, como o Cidade Ativa, em que a comunidade elege prioridades para os serviços da prefeitura.

– A ideia é envolver a comunidade. É simples, como feijão com arroz – sugere Chicão.

Também há o Desenvolvimento Estratégico Comunitário, em que se discutem ações em bairros.

– Não é discutir verba, mas o que se quer para a cidade – diz Chicão.

Já o projeto Minha Casa trabalha a habitação. Em seis anos, foram construídas mais de mil moradias – as verbas são municipais e federais. As famílias beneficiadas não podem vender as casas e têm como condição se envolver em cursos de capacitação e manter os filhos matriculados na escola.

– Não é o Minha Casa, Minha Vida do Lula. A gente procura é trabalhar a geração de renda – aposta Chicão.

Outro projeto é o Bola do Futuro, que envolve cerca de 1,5 mil crianças em escolinhas públicas de esporte:

– É a inserção social pelo esporte.

Gestão – A área social é a grande marca de Chicão como gestor público, ainda que ele não faça muita questão de levantar como bandeira de propaganda política os projetos que implantou em Santiago. Já enfrentou questionamentos. Alguns o acusaram de fazer populismo às custas da miséria alheia, outros de dar muita atenção para os pobres e pouco para obras.

– Às vezes, alguns dizem “só pensa na parte social”. Mas para mim o fundamento da coisa são as pessoas – diz.

A prestação de contas nos oito anos de Chicão à frente da prefeitura teve apontamentos de falhas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Sete anos de gestão foram aprovados. Os questionamentos do exercício de 2007 – que envolvem renúncia de receita por não cobrança administrativa ou judicial de tributos, concessão indevida de gratificação pessoal a servidores e irregularidades na contratação do serviço de coleta e destinação de lixo, entre outros –, que geraram multa de R$ 1,2 mil, ainda aguardam decisão de recurso.

Após sair do comando de Santiago, no fim de 2008, Chicão não se lançou imediatamente como candidato. O representante do partido na Assembleia era Marco Peixoto, que tentaria a reeleição. Como Peixoto acabou indo para o Tribunal de Contas do Estado (TCE), Chicão virou o nome local do partido para fazer dobradinha com seu grande parceiro político, o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP), o terceiro mais votado no Estado no dia 3.

A campanha começou em fevereiro. com a estratégia de mostrar a necessidade de manter um representante regional na Assembleia.

– A gente apostou em visual e barulho. Como eu era um candidato novo para o cargo, precisava me tornar conhecido na região. Foi uma campanha com muito envolvimento de pessoas ligadas ao partido que se empenharam em função de uma causa. E acredito que Santiago não pensou em votar em um candidato, mas em eleger um – acredita.

Ciente de que vendeu uma promessa ao eleitorado, o novo deputado promete trabalhar em nome de Santiago e região.

– Um parlamentar tem que pensar em sua região em termos de desenvolvimento. Sou um defensor do municipalismo e vou defender mais recursos para os municípios. E as questões locais, vamos discutir com as cidades e defendê-las. A gente ouve muito que fulano se elege e desaparece. Também quero ter um mandato de presença constante na região – promete.

Jornalista responsável pela entrevista:
FRANCISCO DALCOL

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