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domingo, 12 de abril de 2009

CUIDADO: Depressão

Especialistas defendem medicamentos. Pesquisadores, não

A depressão é um transtorno causado por alterações químicas no cérebro. Uma tristeza toma conta da mente e impede a realização de tudo o que estabelecemos como metas para o bom funcionamento da vida. Os sintomas, muitas vezes, são confundidos com frustrações banais. Mas a falta de informação faz o mal ser alvo de preconceitos e interpretações equivocadas.
Enquanto pessoas erram no diagnóstico, a doença não para de crescer.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão afeta 120 milhões de pessoas no mundo e é a quarta enfermidade mais incapacitante, de acordo com estudos feitos em 1996. Pior: no ano de 2020 já será a segunda, perdendo apenas para doenças isquêmicas do coração.

Nesse mundo que ainda mistura avaliações apressadas e informações desencontradas, uma pesquisa publicada pela Universidade de Hull, na Inglaterra, pôs em questão o uso de antidepressivos no tratamento da doença. De acordo com o estudo, esses medicamentos não seriam eficazes em casos leves e moderados. Mas especialistas discordam.
– A depressão é uma doença só, não três. Casos leves, moderados e graves se diferenciam apenas por alguns sintomas – explica o psiquiatra e professor da Universidade de Brasília (UnB) Raphael Boechat.
O psiquiatra Ricardo Moreno, pesquisador do grupo de doenças afetivas do Hospital das Clínicas, em São Paulo, também implode o estudo:
– A pesquisa apresenta muitas falhas metodológicas. A conclusão é um desserviço para pacientes que sofrem de casos mais brandos, já que, sem tratamento, eles têm grandes chances de passar por crises mais graves.

Autora do livro Eu Tomo Antidepressivo, Graças a Deus!, a jornalista e escritora Cátia Moraes sofre do mal e juntou em sua obra experiências de quem passou pelo problema.
– A depressão leve é chamada assim porque não paralisa totalmente a pessoa, mas a qualidade de vida dela se deteriora rapidamente – conta.
Para Ricardo Moreno e Cátia Moraes, pesquisas como essa não são aceitas por causa do receio e preconceito em torno do uso de antidepressivos. Para eles, essa falta de aceitação é um grande entrave no tratamento de quem sofre do mal. Segundo Moreno, uma em cada cinco pessoas terá pelo menos um episódio de depressão ao longo da vida. Dessas, apenas um terço procura um psiquiatra. Os outros dois terços vão atrás de tratamentos alternativos. O que é preocupante, já que 18% dos casos de depressão são crônicos e, sem a medicação preventiva, podem voltar a ocorrer ao longo da vida, de maneira cada vez mais acentuada e incapacitante.
Mas os médicos ressaltam a necessidade de se diferenciar a tristeza profunda da patológica. Estar sofrendo não é o pré-requisito para o uso dos antidepressivos. Frustração faz parte da vida. Além disso, se não for depressão, os remédios não farão efeito. Apesar de o antidepressivo não causar dependência como os calmantes, os mais de 30 tipos têm efeitos colaterais e precisam ser controlados por um psiquiatra para que sejam realmente eficazes.

DÚVIDAS FREQUENTES:
=Tristeza não é depressão, como explica o psiquiatra Raphael Boechat: A doença apresenta uma série de sintomas, a tristeza é um deles, mas estão presentes vários outros, como alterações do sono e do apetite, humor deprimido, diminuição do desejo sexual, alterações de concentração, ideias suicidas. Além disso, a duração é maior do que a de uma tristeza causada por circunstâncias da vida”
=O uso de antidepressivos para escapar das frustrações cotidianas é um risco para quem usa, além de não ser eficaz em quem não sofre da doença. Mas o medicamento não causa dependência. Há a possibilidade de efeitos colaterais graves, e a combinação com o uso de outros remédios pode alterar o funcionamento de ambos. A pílula anticoncepcional perde sua eficácia, por exemplo
=A incidência de depressão é maior nas mulheres do que nos homens. O psiquiatra Ricardo Moreno explica que “isso pode ser em decorrência das alterações hormonais pelas quais a mulher passa ao longo da vida”
=O fator genético tem forte influência no aparecimento da depressão. Duas em cada cinco pessoas que sofrem com a doença têm outros casos na família
LEVANDO A PÚBLICO
=A jornalista Cátia Moraes escreveu um artigo em resposta a uma reportagem que atacava o uso de antidepressivos. A repercussão foi tanta que ela revolveu escrever um livro sobre sua experiência pessoal, assim como a de seu pai, que morreu em decorrência da doença. Antônio Calloni e Cássia Kiss deram depoimentos para a obra.
=No livro Eu Tomo Antidepressivo, Graças a Deus!, Antônio Calloni revelou que, quando começou a sentir os sintomas da depressão, não entendeu o que estava acontecendo. Foi ao psiquiatra, fez terapia e tomou antidepressivo, mas parou três meses depois. Teve, então, uma recaída, e diz que, desde então, segue à risca as indicações de seu médico
=A atriz Cássia Kiss foi capa de revista e deu entrevistas sobre o fato de sofrer de transtorno bipolar – um tipo de depressão marcado por duas fases distintas, uma depressiva e outra de euforia ou mania –, além de bulimia. Ela disse que, como para muitos que admitem, falar a respeito de sua doença trouxe um grande alívio.

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