A falta de oportunidade de trabalho não afeta somente as pessoas sem qualificação. Para aqueles que se formaram em uma faculdade, também não há vagas em Santiago. Que o diga a estudante de Psicologia Veranice Kucera, 24 anos. Prestes a receber o diploma, ela trabalha em uma ótica para pagar a faculdade. E quando o diploma estiver na mão? Bom, Veranice já sabe que, mesmo formada, será muito difícil conseguir trabalho na cidade. A mudança para um centro maior é uma certeza para a universitária.
- Aqui não tem mercado. Quero exercer a minha profissão durante a vida inteira e, para isso, terei de buscar algo fora. Ainda não sei bem onde, mas penso em fazer um concurso público em uma cidade que valorize o trabalho das psicólogas - disse Veranice.
Para o gerente executivo do Centro Empresarial, (entidade que reúne a Associação Comercial Industrial e Serviços, o Sindicato de Comércio Varejista e a Câmara de Dirigentes Lojistas) João Carlos Machado, trabalhar fora da área de formação é comum na cidade. Ele conta que são vários casos nos quais administradores, contabilistas e advogados trabalham no comércio, que é uma das bases econômicas do município. Conforme o gerente, o fato ocorre porque mais de 80% das empresas da cidade são micro ou pequenas, administradas principalmente pelas próprias familias.
- Os nossos gestores não têm a visão de contratar formados devido às estruturas das empresas, micro ou pequenas. Se valorizassem a qualificação, não teríamos a exclusão desses profissionais do mercado de trabalho - afirmou.
O Centro Empresarial tem 700 empresas associadas, que geram, em média, 4 mil empregos. Segundo os dados da Secretaria da Fazenda do município, nos últimos quatro anos, 1027 estabelecimentos comerciais abriram as portas, ao passo que 855 fecharam. Entretanto, é provável que o número de fechamentos seja ainda maior em função dos encargos burocráticos e financeiros que o desligamento exige.
Indústrias - O saldo de 172 empresas abertas nesse período não supre a necessidade de mais vagas no município. Os moradores de Santiago apontam a falta de indústrias como o principal fator para a situação. Para o morador Iorke Santos Athaide, 61 anos, que nasceu na cidade, as indústrias que existiam cumpriram o contrato de isenção fiscal e foram embora da cidade.
- Tínhamos de ter uma política maior de incentivos fiscais, de maneira que as indústrias se fixassem na cidade. Do jeito que está, o emprego é temporário - opinou Athaide.
Segundo o secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Roger Régis Roos, a prefeitura desenvolve programas de incentivos, mas, sozinha, não consegue formas para atrair indústrias para o município.
- Precisamos de incentivos maiores para a instalação. Nunca somos os privilegiados pelos recursos estaduais, que sempre acabam direcionados para as regiões serrana e metropolitana da Capital.
Os amigos João Manuel Pereira Batista, 59 anos, Wilson Fernandes, 66, e Adão Ramos Pinto, 72, que moram há mais de 40 anos na cidade, contam que perderam as contas de quantas empresas foram embora.
- Tínhamos móveis, tecidos, alimentação. Hoje, os dedos de uma mão são suficientes para contar as empresas que ainda restaram - lamentou Fernandes.
Segundo dados da prefeitura, há 52 indústrias no município, 13 localizadas no distrito industrial, às margens da BR 287, e duas incubadoras que abrigam nove.
Fonte: Jornal Diário de Santa Maria do Grupo RBS - Jorn. FRANCINE CADORE/ Especial
Nota do Editor: Falta de qualificação ou excesso de qualificação. Então como progredir profissionalmente em nossa Santiago? Será que Santiago continuará a "exportar" seus filhos?
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