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domingo, 10 de maio de 2009

Do Rio Grande Antigo

A obrigação


Os serviços prestados pela carreta neste velho Rio Grande foram incontáveis. Era a única maneira de transporte de carga que tínhamos. Comumente, as carretas eram puxadas por três ou quatro juntas de bois. O carreteiro sempre foi "paciencioso". As viagens eram realizadas daqui, onde as carretas eram carregadas com couro bovino e peles de ovelhas, com destino a Palmeira das Missões, Nonoai, Tupanciretã, de onde o carreteiro trazia mantimentos para as estâncias. Era comum os carreteiros viajarem em comitiva, três ou quatro carretas. Programada a viagem, a mulher do viajante era quem se encarregava de arrumar as coisas do marido. Uma muda de roupa, arroz, feijão, charque e principalmente o sebo, graxa animal indispensável aos eixos da carreta, para que estes não incendiassem. O sebo era passado no eixo na saída de casa e no regresso da viagem, antes de carregadas as mercadorias, o que importava num serviço moroso, porque a carreta tinha que ser "macaqueada" ou erguida. João Francisco era o nome de um carreteiro que residia no Iguariaçá, e que saiu em direção a Palmeira das Missões. Depois de uns quinze dias de viagem, após descarregar a carga que levou, preparou-se para engraxar o eixo de sua carreta para o regresso. João Francisco deu falta do sebo. Eis que a sua mulher esquecera de colocá-lo na mochila. Seus companheiros de viagem comentavam que o carreteiro ficou furioso. Aquele esquecimento não tinha perdão. Mesmo socorrido não esqueceu tamanha falta da esposa. Quando de seu regresso, aproximando-se o dia de sua chegada, sua mulher e o filho pequeno que tinham, começaram a cuidá-lo. Até que um belo dia, João Francisco apontou com sua carreta em uma das coxilhas próximas da casa. A mulher, pegando o filho pela mão saiu ao encontro do marido. Ao aproximar-se ouviu João Francisco reclamar em altos brados:- E o sebo, pu.....? E o sebo?


Fonte: Jornal Expresso Ilustrado coluna do Barbela

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