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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Cooperativa Tríticola Santiaguense em séria crise financeira


Um símbolo da economia santiaguense e regional esta a beira da falência.
A Cooperativa Tritícola santiaguense enfrenta uma das maiores crises financeiras. Com mais de 2 mil associados ativos, alguns com altos valores a receber e outros com quantias bem maiores a pagar, a instituição faz o possível para seguir operando. Seu presidente, Leandro Cardoso Ferreira responde às perguntas de três jornalistas do Expresso e traz tudo à apreciação do leitor. “Nesses anos, jamais tivemos a opção de fechar sem que isso deixasse associados sem receber pelo produto. Nosso esforço foi na recuperação, pela sua importância econômica e social para o associado e à região. Ofuturo da Tritícola depende do associado. Se ele quiser e acreditar, a Cooperativa dá a volta por cima; se virar as costas, ninguém será capaz de fazer milagres”, observa ele.

Como está a situação?
A situação financeira é grave, mas reversível. É preciso um forte trabalho que envolve enxugamento de despesas e renegociação com os credores. 

Qual o número de associados?
Uns 2.200 ativos, ou seja, que entregaram algum produto nos últimos 3 anos. Considerando os inativos, superamos os 8 mil sócios.

Qual o patrimônio? E a dívida?
O patrimônio está avaliado em R$ 25 milhões. Nossa dívida bruta é de 53 milhões. A líquida, ou seja, a dívida bruta, menos os créditos a receber e os estoques, está em 25 milhões. O faturamento bruto anual é de 120 milhões.

Quantos já foram demitidos?
Tivemos que demitir 75, de um total de 280 para ajustar a estrutura. 

Alguns vice-presidentes foram demitidos ou saíram por conta?
Em fevereiro, o sr. Vicente pediu demissão da vice-presidêcia por motivos particulares. Em outubro, com o agravamento da crise, que resultou na suspensão do pagamento do produto ao associado, os membros do conselho que tinham dívidas renegociadas, incluindo o vice-presidente, demitiram-se.

Quantos são os devedores? Por não foram executados?
Temos cerca 400 associados com dívidas, incluindo contas antigas. Estão sendo cobrados pelo setor de cobranças, ação que é prioridade absoluta. A execução judicial acontece só depois da tentativa de negociação ser esgotada, pois a Justiça é lenta, mas ninguém está sendo poupado. Já temos 72 devedores sendo executados ou já encaminhados para o jurídico.

E quanto ao empréstimo da Caixa RS, ele veio?
Em julho assinamos contrato de empréstimo no valor de R$ 3,6 milhões para infra-estrutura: sistemas de aeração e termometria nos armazéns de Santiago e Capão do Cipó, da nova fábrica de ração e da indústria do mel. As obras estão andando e os recursos estão sendo liberados conforme o cronograma. São projetos que não envolvem desencaixe da Cooperativa, já que são 100% financiados, incluindo um pequeno capital de giro. O prazo de pagamento é de 12 anos, com três de carência e juros de 6,75% ao ano. O retorno desses investimentos é superior ao valor das prestações. O projeto é autofinanciável. O que não se concretizou foi o financiamento de capital de giro de 3 milhões.

Seria porque um fornecedor colocou a cooperativa no Serasa?
Sim. Um fornecedor de defensivos nos colocou no Serasa em julho, apesar da dívida já ter sido renegociada, o que trancou o financiamento de capital de giro, bem como, outras operações bancárias. Estamos na Justiça contra essa empresa.

Como ficarão os compromissos com base nesse dinheiro, como a obra de ampliação?
O projeto de investimento continua. Foi assinado antes dos problemas citados.

Caso viesse esse dinheiro, a crise seria empurrada?
Se esses recursos (capital de giro) tivessem entrado no prazo, não teríamos a crise. Ela é mais financeira que econômica; nosso endividamento em relação ao faturamento é administrável, o problema é estar concentrado no curto prazo e com altos juros. Se tivéssemos conseguido esse capital de giro, a Cooperativa estaria bem.

Alguns devedores passaram bens para o nome de terceiros temendo xecução?
A cobrança dos débitos está a cargo do Departamento de Cobrança e do Jurídico, que estão tomando todas as medidas, inclusive contra tentativas de fraude ao credor.

O senhor já forneceu gado a outros matadouros, em vez de vendê-los à cooperativa?
A Cooperativa abatia cerca 400 cabeças por mês. A oferta sempre foi superior à capacidade de abate. Mais de 80% dos associados ofereciam gado não conseguiam vendê-lo à Tritícola. Sempre houve fila no matadouro; chegamos a ter escala de abate comprometida para 3 meses. Como os presidentes anteriores, procurei não vender gado gordo à Cooperativa para evitar comentários do tipo "a Cooperativa só abate gado dos diretores". Só vendi gado à Tritícola em épocas de escassez de boi gordo. Já na produção de grãos, jamais desviei um saco de qualquer produto. Sempre entreguei 100% do soja, milho, trigo e aveia. Como centenas de produtores, estou com soja e milho retidos, não tendo privilégio no pagamento.

O senhor teria causas judiciais, cujo trabalho jurídico teria ajuda dos advogados da Tritícola?
Não.

Já houve crise assim?
A mais grave foi de 96 a 97, e quase fechou. Nesse período, chegamos a ter mais de 5 mil títulos protestados; a dívida líquida estava em 10 milhões para um faturamento anual de 13 milhões. A situação foi revertida e a Tritícola cresceu.

Como a crise chegou a tanto? 
Os problemas começaram em 80, com a crise da agricultura. A área de soja na região baixou de 80 mil para 27 mil hectares. A de trigo, de 40 mil para 2 mil hectares. Assim, uma estrutura projetada para receber 1,6 milhões de sacos de soja e 800 mil de trigo por ano, passou a operar com 500 mil sacos de soja e 40 mil de trigo/ano. Além disso, já nesse período, a Cooperativa sofreu forte inadimplência de produtores atingidos pela crise, o que provocou sua descapitalização.

O que fez quando entrou?
Em 94, entrei de vice-presidente, junto com o Acioli (presidente) e o Vilmar Sagrillo (superintendente), e a Tritícola já estava com 290 mil sacos de soja vendidos antes da colheita. Naquele ano, recebemos 440 mil sacos de soja. 

Como administraram a situação? 
Nosso esforço sempre foi para transformar essa dívida de curto prazo e com elevado custo financeiro, em longo prazo com juros acessíveis. Infelizmente, os programas de governo como o financiamento de cotas-partes e o Recoop, não chegaram às cooperativas no volume necessário, servindo apenas para alongar os compromissos com os bancos. 

Aí a dívida cresceu?
Assim, tivemos sempre nosso endividamento concentrado em recursos caros e de curto prazo, como a venda antecipada de soja, o chamado soja verde. O lucro operacional, na maior parte dos anos, foi insuficiente para cobrir os juros do endividamento, de modo que a dívida crescia por si. Tivemos também várias frustrações de safra o que, além de reduzir a receita, contribuíram para gerar inadimplência dos sócios.

A fusão com a Cotrijuí é irreversível? Quais os benefícios?
Não houve fusão com a Cotrijuí. Fizemos uma parceria para o recebimento do trigo, uma vez que a Tritícola estava sem condições de receber o produto.

Quanto por cento ela vai levar do produto que receber?
A Cotrijuí recebeu o trigo em seu nome e reembolsa as despesas operacionais da Tritícola, além de repassar 50% da margem comercial.

E os supermercados deixam lucro? Serão entregues à Cotrijuí?
Eles estão operando com lucro e continuam 100% em mãos da Tritícola.

Essa parceria tem data para acontecer? 
A parceria da Cotrijuí foi específica para o trigo da última safra. Para o futuro, a situação está em aberto. Provavelmente precisaremos de uma parceria para as próximas safras de soja e a Cotrijuí é forte candidata, mas qualquer decisão nesse sentido tem que ser homologada pelo Conselho e pela Assembléia.

Existe pressão para que saia da presidência?
A pressão certamente é muito forte, e sofremos muito com a situação do associado que está atravessando dificuldades, mas não é do meu feitio fugir da luta. Seria uma atitude ignóbil abandonar o navio nessa hora.

Qual o futuro da Tritícola?
A crise atual é grave, mas não é terminal. A Tritícola certamente superará como superou outras. Não vamos iludir ninguém dizendo que o processo será rápido ou indolor, porque não será. Levará alguns anos para a Cooperativa retornar à normalidade. Hoje, mais do que nunca, o futuro da Tritícola depende do associado. 

Reportagem:
João Lemes, Denilson Cortes e Márcio Brasil do Jornal Expresso Ilustrado

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa entrevista é mentirosa. Só o ex-prefeito Toninho deve mais de 1 milhão de reais e o vice-eleito do Capão do Cipó tambem tem uma dívida superior a isso. O cinismo é grande em Santiago e ninguém divulga a lista porque importantes políticos estão entre os saqueadores de Tritícola. A lista começa com o PP, passa pelo PMDB com o vereador eleito Arlindo devendo mais de 300 mil, vai ao guru Antonio Valério e termina no PSDB.

Nei Colombo disse...

Quanto a veracidade da entrevista o Portal Santiago não discute o mérito, pois ela é assinada por três jornalistas da imprensa santiaguense: João Lemes, Denilson Cortes e Márcio Brasil e foi publicada no Jornal Expresso Ilustrado, veículo de credibilidade em Santiago e região, e as informações ali prestadas são de responsabilidade do presidente da Cooperativa Triticola Santiaguense LTDA, senhor Leandro Cardoso Ferreira.

Se há uma lista a ser divulgada, essa é uma decisão da Diretoria, que deve decidir se há condição legal para isso ou não.

O Portal Santiago ressalta que não se responsabiliza por comentários de internautas.